Via Correio
Aos 9 anos, a estudante Isabel Silva da Costa tem uma rotina apertada: vai à escola, volta, descansa e depois tem que estudar. Às segundas, quartas e sextas, ela tem natação, já terças e quintas são dias de inglês. Além disso, ela lê ao menos duas horas por semana. Em dias normais, Isabel só brinca se tiver tempo. Do contrário, só no final de semana. As idas à piscina e dias de brincadeiras com as amigas no playground do prédio, que antes eram raros, hoje fazem parte do dia a dia dela. Afinal, dezembro trouxe suas férias escolares, que vão até o final de janeiro. A rotina de Isabel se repete em muitos prédios. A temporada de férias começou e, pelo menos nos próximos dois meses, os condomínios serão cenário de boa parte da programação da criançada.
“Estamos planejando as férias desde setembro”, garante o engenheiro agrônomo Nelson Lara da Costa, 59 anos, pai de Isabel. Além de uma viagem pela Bahia e das programações culturais pela cidade, o ‘play’ do prédio faz parte da agenda da família. “Ela sempre desce pra brincar. Na nossa rua moram três amigas próximas e normalmente fazemos um rodízio: um dia ela passa na casa de uma, outro na casa de outra e vice-versa”, conta Nelson.
Para Isabel, quando não dá para viajar e ir à praia, a área comum do prédio é uma boa opção de diversão. ”Gosto de chamar meus amigos e brincar na piscina. A gente também curte outras coisas, como esconde-esconde e brincar de boneca”, diz.
Atividades
Segundo a psicóloga e psicopedagoga Paula Cabussu, as férias representam um momento sagrado na vida das crianças. “É importante brincar e ter atividades em que a criança possa ter uma liberdade maior. Durante o ano letivo, elas já estão determinadas e focadas em aspectos cognitivos. Este é o momento para que os pais estimulem a criatividade da criançada”, afirma. Apesar de não acreditar que todas atividades dos filhos devem ser rigorosamente controladas pelos pais, ela sugere que a família planeje ao menos as viagens e atividades familiares, que envolvam uma programação cultural, como idas a parques, a espaços qualificados na cidade, andar de bicicleta, entre outras atividades que possam ser curtidas por todos.
“Quando a criança está em casa, os pais não precisam planejar tudo rigorosamente. No entanto, eles devem estar atentos a algumas questões como onde a criança está, com quem, e o que ela está fazendo, mas sem deixar de permitir que elas sejam expostas as experiências diferentes”, pontua a psicopedagoga.
O pai de Isabel, Nelson, concorda que a folga da rotina tradicional é essencial para os estudantes. “Eles passam um ano cumprindo uma série de obrigações dentro da rotina. Por isso sempre tentamos ir para algum lugar em família ou fazer alguma atividade diferente. Essa é a hora de relaxar a mente e fazer o que gostam”, diz.
E é isso que Isabel faz. Algumas vezes, inclusive, ela mistura conhecimentos que aprende na escola com a brincadeira. “Adoro um jogo, o Monopoly, que funciona como o Banco Imobiliário e tem a ver com Matemática. Quem comprar mais casinhas e conseguir fazer o outro falir, ganha”, explica a estudante.
Interação
Para Paula Cabussu, os jogos dentro de casa também são bem-vindos. “Às vezes, a criança está em casa, mas está com colegas, está jogando. Quando ela está na internet, também interage e se desenvolve”, argumenta. Mas, ainda assim, é bom que a criança faça um pouco de tudo. “Tanto a liberdade de jogar horas no computador, ou então jogar futebol com os amigos e até tomar banho de piscina são importantes”, diz.
De acordo com a psicóloga, as vantagens de condomínios com áreas de lazer são a interação entre pessoas com perfis diferentes, além da liberdade. cuidados Quando se trata de convivência das crianças em condomínios, entretanto, a atenção dos pais deve ser redobrada. “A exposição é muito grande. Em alguns casos, crianças de perfis diferentes e de idades diferentes acabam criando situações desagradáveis. Os pais devem sempre estar por perto, de olho. Até 12 anos, as crianças não podem sozinhas. Já vi casos de crianças mais velhas explorando mais novas, além da exposição a conteúdos inadequados”, recomenda.
Neste quesito, Nelson e Ana Lina, pais de Isabel, são bastante cautelosos. “O nosso sistema é o silêncio. Quando elas brincam, falam bastante e riem alto. Como o nosso prédio tem poucos andares, quando ela e as amigas fazem muito silêncio, a gente desce pra olhar. Mas sempre tem alguém de olho”, afirma.
Já o presidente do Sindicato da Habitação da Bahia (Secovi-BA), Kelsor Fernandes, ressalta que a vigilância dos pais tem que ser muito próxima, sobretudo neste período de férias, já que a circulação da criançada é alta. “Os pais devem ter muito cuidado com os filhos, pois os condomínios não são obrigados a ter funcionários que cuidem das crianças. Elas precisam estar na companhia ou observação de algum adulto, já que elas podem se machucar e não ter ninguém por perto para socorrê-las, por exemplo”, explica.
Fernandes diz, ainda, que os pais devem orientar seus filhos a não utilizar o elevador como brinquedo. “Não é recomendável que crianças menores de 10 anos andem sozinhas no elevador”, sinaliza. O uso da piscina, caso haja, deve seguir o regulamento do condomínio, que geralmente diz que não se pode deixar crianças sem supervisão de um adulto. “O condomínio também deve proibir que as crianças brinquem nas escadas e na garagem”, acrescenta.
Segundo a psicóloga Paula Cabussu é essencial que as crianças respeitem as regras de convivência, os limites e que não incomodem as pessoas. “Os pais devem educá-las para isso. Eles devem orientar sobre quais comportamentos estão fora da norma e como seus filhos devem se posicionar”, pontua.
Sem área de lazer No caso de condomínios sem área de lazer, outras atividades podem ser desenvolvidas. “Alguns condomínios têm uma estrutura boa, com piscinas, quadras, brinquedoteca e normalmente estão estruturados com cursos e programações. No entanto, boa parte não tem isso tudo e pode desenvolver”, diz Kelsor.
Segundo ele, ambientes como brinquedoteca e biblioteca podem ser formados com a iniciativa dos próprios moradores. Outra opção pode ser uma conversa com o síndico, que pode mediar conversas entre os pais. “Os pais podem se reunir para contratar um profissional ou empresa que desenvolva algum tipo de atividade recreativa. Ou ainda fazer um rodízio, em que cada um fica responsável por uma atividade”, complementa.
É o que faz a gerente comercial bancária Jenifer Oliveira, 19. Como ela trabalha a maior parte do dia, sempre deixa o filho Felipe Oliveira, 5, na casa de sua mãe, que mora no mesmo prédio. Já nos finais de semana, ela e seu padrasto se revesam para levar as crianças para brincar na área comum do prédio, já que sua mãe e o padrasto têm mais dois filhos: um de 2 anos e outro de 6 meses.
“As férias do Felipe vão até fevereiro. Ele vai passar um tempo na casa de parentes, vamos viajar e depois voltamos para casa. Como ele me pediu uma moto elétrica de presente de Natal é provável que ele desça bastante para brincar”, conta. “Temos um parquinho ao lado do prédio, de madeira, mas sempre quebra. No meu prédio mesmo não temos uma estrutura boa de lazer e infelizmente não há tantas crianças para que possamos desenvolver algum tipo de atividade diferenciada. Mas ele sempre dá um jeito de se divertir nas férias, seja dentro ou fora de casa”, assegura.
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